SÃO GABRIEL WEATHER

BRIANE MACHADO

Balzaquianos em crise

Desculpe a indiscrição, mas você já passou dos 30 anos?

É que estou aqui pensando naquele clichê que diz: "Nossa! O tempo voa!".

Eu não sei ao certo por quantas fases passamos na vida. Na verdade, acredito que me perdi nesta contagem ainda na graduação.

Depois que saímos da infância, tudo acontece muito rápido, talvez, a velocidade seja maior do que gostaríamos.

No meu caso, o ensino médio passou como se tivesse sido em um único ano no qual me preparava, diariamente, para todas as provas que faria após a formatura.

Existia um vestibular e juntamente dele, um enorme ponto de interrogação na cabeça sobre qual carreira seguir - ao mesmo tempo em que observava amigos com a certeza da profissão e outros que nem fariam qualquer prova naquele momento e sairiam de férias como se nada estivesse acontecendo.

A graduação chega e mais uma dúvida: É isso mesmo que eu quero para a minha vida?

Acredito que seja o normal para um jovem de 18 anos pensar se gostaria de trabalhar naquela área por, pelo menos, 50 anos de sua vida - sem contar as diversas alterações previdenciárias e os requisitos da aposentadoria.

Mais uma formatura chega e mais algumas dúvidas sobre qual caminho seguir. É dúvida atrás de dúvida, uma mistura de dever cumprido e insegurança sobre o que fazer, obviamente, esse pânico não atinge a todos.

Conseguimos o primeiro emprego, a primeira anotação na CTPS, o primeiro salário cai na conta. Saímos do "status" de estagiário para "funcionário". Mais uma conquista. Ou não. Às vezes, o primeiro emprego não é bem na área que queremos, mas é necessário para dar novos passos e tomar novos rumos.

E aqui começam as perguntas mais difíceis de serem respondidas, justamente porque passamos da fase de responder coisa do tipo "como está a faculdade?", "e os namoradinhos (as)?".

Os questionamentos pós 25 anos vêm carregados de pitadas de comparações - o que ninguém gosta.

"O sobrinho da prima da minha vizinha terminou a faculdade, estudou por dois meses e passou em um concurso. Está ganhando 15 milhões por mês" e coisas do gênero. Ou, ainda, vem aquele parente distante enviando links sobre concursos da Prefeitura de não sei onde, que nem tem vagas para a tua área. É cada respirada funda.

Logo, vem a cobrança, principalmente para nós, mulheres, sobre casamento, filhos e tudo que compõe a família do comercial de margarina. Chegar aos 30 é responder uma longa e infinita lista de questionamentos.

Mas por qual razão precisamos justificar os planos, a demora em conquistar ou o motivo de mudarmos a rota ao longo do tempo para pessoas que, na maioria das vezes, não têm a menor influência sobre a nossa vida?

Por que algumas pessoas são parâmetros para outras de como conseguiram conquistar seus objetivos mais cedo? Parece uma eterna competição.

Chegar aos 30 traz a concepção, quiçá, obrigação de que precisamos fazer aniversário dentro do próprio apartamento, mobiliado com móveis planejados e com o carro do ano na garagem, além de estar com a vida pessoal estabilizada, com um anel de noivado no dedo e com datas pré-definidas para o casamento e a chegada do primeiro filho.

Será que a outra parcela está errada em planejar e fazer tudo no meu próprio tempo? Será, realmente, um atraso?

Então, chega-se a conclusão que não é nada disso, mas sim uma cobrança social demasiadamente desnecessária sobre a vida de outrem.

Portanto, não há razão alguma para viver o que o outro pensa e nem sempre faz.

Sofremos com crises de autocobrança. É o mal do século.

Já dizia uma filósofa brasileira de quem não recordo o nome: "Cada um no seu quadrado.".

  

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